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Cultura do erro: o motor da inovação

Sem cultura do erro, não existe inovação – a inovação só ocorre quando estamos dispostos a abraçar o erro como possibilidade.


A lógica por trás desse argumento é muito simples: inovação demanda experimentação e um experimento, por definição, pode dar certo ou não. Em empresas onde as falhas não são bem-vindas, as pessoas não ousam fazer diferente – simplesmente repetem as mesmas coisas da mesma forma e, como resultado, obtém mais do mesmo. Sem mudança, sem inovação.


Cultura do erro é um daqueles assuntos dos quais muito se fala, mas pouco se faz. Acredito que haja uma série de estigmas que afastam as empresas do entendimento de que errar, na verdade, pode ser um impulso para se chegar mais rapidamente a soluções que gerem valor. Neste artigo, me dedico a debater alguns desses pontos.



De que tipo de erro estamos falando


Quando se trata de cultura do erro como motor para a inovação, é crucial deixar claro de que tipo de erro estamos falando – é preciso distinguir o erro por experimentação do erro por displicência.



Cultura do erro


Não estou me referindo a falhas por negligência, irresponsabilidade ou falta de cuidado. Na inovação, o erro que abraçamos é aquele que resulta da experimentação intencional, calculada e com impacto previsível.


É necessária uma análise crítica de antemão quanto às potenciais consequências dos experimentos que pretendemos realizar. Erros em processos internos simples, por

exemplo, tem geralmente um impacto mais comedido. Já erros em áreas como compliance podem gerar danos muito mais sérios.


A jornada de experimentação deve se dar em pequenos passos e em um ambiente no qual se conhece os limites, de preferência seguindo um método claro. Sim, na inovação, até para errar temos método.



Errar com método


Começar de forma enxuta, com investimentos iniciais mínimos de tempo e dinheiro, e seguir em ciclos ágeis de prática, medição de resultados, identificação de falhas e ajuste de rota. Essa é a essência do “errar rápido e barato” – uma máxima que funciona para a inovação em toda e qualquer empresa.


O conceito faz parte dos princípios apresentados por Eric Ries no livro “A Startup Enxuta”. Nele, o autor destaca fundamentos básicos para a criação de startups, mas ouso dizer que a mesma lógica se aplica no ambiente corporativo.


De forma resumida, o que chamo de “errar com método”, me pautando nos princípios de Ries, se dá do seguinte modo:


  1. identificar claramente um problema ou dor, mapeando seu contexto, origem e impacto;

  2. gerar possíveis soluções para o problema;

  3. selecionar uma solução que parece mais promissora e definir um experimento enxuto para testar essa solução;

  4. elencar os parâmetros de sucesso do experimento e como serão medidos;

  5. colocar o experimento em prática;

  6. medir resultados, ajustar a rota e movimentar o próximo experimento.


A probabilidade de se acertar 100% de primeira é ínfima. Por isso a importância da agilidade: são os ciclos de teste, erro, aprendizado e ajuste que levam à inovação, ou seja, a soluções que de fato geram valor para as pessoas e resultado de negócio. Cada experimento oferece insights valiosos que guiam os próximos passos, propiciando constante evolução e melhoria.



Como promover a cultura do erro


Nas empresas, para promover a cultura do erro é preciso desfazer a associação de falhas com vergonha ou represália. Geralmente é o medo do julgamento e de consequências negativas que faz com que as pessoas não arrisquem. Logo, criar um ambiente psicologicamente seguro é fundamental para que elas se sintam “confortáveis” para experimentar, mesmo correndo o risco de errar.


No quesito segurança psicológica, é preciso salientar o papel da liderança. Cada líder é responsável por transformar o ambiente do seu próprio time – comunicar que o erro por experimentação é visto como uma fonte valiosa de aprendizado, fomentar a prática constante de experimentos e, o mais importante, ser o exemplo vivo dessa cultura. Sim, o bom e velho walk the talk, ainda muito subestimado, é o caminho mais eficiente.


Nesse contexto, rituais de cultura – práticas e atividades regulares dedicadas a reforçar valores, comportamentos e crenças – tem sido cada vez mais comum nas empresas. O Nubank, por exemplo, tem um encontro mensal descontraído chamado Mega Demo no qual os times são convidados a apresentar conquistas e falhas. Já a ArcelorMittal possui o Falha Nossa, evento semestral para apresentação de erros de forma lúdica, com uma companhia de teatro mediando o encontro. Eu mesma já liderei na Mondelez uma fuck up session: uma batalha de erros divertida entre dois times com o intuito de desmistificar o tema e compartilhar conhecimentos.


Reparou que todas essas iniciativas têm em comum a descontração? Não é à toa: o intuito é desfazer os estigmas contidos no ato de errar, e nada como a diversão, o humor e a conexão entre as pessoas para isso.



O seu próximo passo


Até aqui você já deve ter compreendido que a cultura do erro é um fator determinante para a inovação. O próximo passo então é a ação: assuma você o papel de promotor dessa cultura. Comece pequeno, junto ao seu time ou aos colegas que te cercam, na sua área ou âmbito de atuação.


Cultura não é algo que se transforma de um dia para o outro. Mas acredite: os pequenos movimentos ao longo do tempo, quando somados, tem um impacto gigantesco nas organizações.

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