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O que de fato é “inovação”?

As organizações discursam sobre, os profissionais reconhecem a importância, mas a verdade é que ainda não existe clareza sobre o que de fato é inovação por grande parte das empresas, e o impacto dessa falta de conhecimento é maior do que você pode imaginar.  

Times com pouca confiança criativa e medo profundo do erro; gestores que ainda operam por comando e controle e têm extrema dificuldade de quebrar o paradigma do “sempre foi assim”; organizações que permanecem no mais do mesmo e, quando menos esperam, são atropeladas.

A questão é que as receitas de sucesso que trouxeram muitas empresas até aqui não garantem o sucesso hoje, muito menos no futuro. Por isso, inovar se tornou imperativo e a palavra inovação está tão presente nos diferentes mercados. Vale ressaltar, no entanto, que a lacuna entre o falar e o fazer ainda é gigantesca.

Neste artigo, compartilho pensamentos e conceitos fundamentais quanto a inovação. Minha intenção não é esgotar o assunto, mas clarear dúvidas comuns e, quem sabe, te provocar o suficiente para que você mergulhe de cabeça no tema – te garanto, é uma jornada extremamente interessante!


Para começo de conversa, o que é inovação?

Na Oficina da Inovação, utilizamos uma definição simples: inovação é algo novo que, ao ser colocado em ação, gera valor percebido pelas pessoas e resultados de negócio.

“Algo novo” pode ser um novo produto, serviço, processo, forma de trabalho, modelo de negócio... Algo de fato disruptivo, que vai virar toda uma indústria de cabeça para baixo, ou algo simples, como uma melhoria de processo, por exemplo. Se esse algo novo gera valor para as pessoas – retorno financeiro, economia de tempo, melhora na qualidade de vida ou de trabalho – elas vão aderir à sua solução. E essa adesão, consequentemente, vai gerar resultados de negócio.

Repare que eu não atrelei inovação à tecnologia de ponta ou a grandes investimentos – esse é um mito que eu quero desfazer aqui. Sim, a tecnologia é um excelente meio para a inovação e grandes investimentos financeiros facilitam demais a jornada. Mas a inovação não pode depender desses recursos para acontecer – ela pode também ser simples, realizada em pequenos passos. 


A diferença entre inovação e invenção

Invenção se refere à criação de algo que não existe, completamente novo, sendo assim passível de patente. O ato de inventar pode parar por aí, você não precisa necessariamente lançar sua invenção no mercado ou disponibilizar para sociedade – você pode simplesmente patentear e guardar essa invenção numa gaveta e isso não a desqualifica.

Já a inovação, como mencionado anteriormente, é algo novo que colocamos em ação de forma a gerar valor percebido pelas pessoas e resultados de negócio. Pode ser algo disruptivo ou um pequeno movimento de melhoria, mas definitivamente tem que ser disponibilizado ao público e gerar valor percebido por ele, levando à adesão e, consequentemente, a resultados de negócio.

Uma história que ilustra perfeitamente essa questão é a da criação do Post-it – as notas autoadesivas da 3M. Em 1968, o engenheiro da 3M Spence Silver buscava desenvolver uma supercola quando obteve um resultado diferente: uma cola mais fraca, mas possível de ser reutilizada em diferentes superfícies sem perder força. Bem, no final dos anos 1960 essa cola foi inventada, mas na época a 3M não percebeu relevância na invenção a ponto de desenvolver um novo produto e lançar no mercado.

Somente no final da década de 1970, cerca de dez anos depois, esse formato de notas adesivas que conhecemos foi lançado no mercado norte-americano, percebido como valioso pelo público, que aderiu ao novo produto da 3M e, assim, trouxe resultados de negócio para a companhia. Ou seja, somente dez anos depois, quando efetivamente foi lançada no mercado e obteve sucesso, o que era uma invenção tornou-se inovação.

Entende a distinção? Uma invenção pode se tornar uma inovação se for lançada no mercado, gerar valor real para as pessoas e resultados de negócio. Mas uma inovação não precisa ser uma invenção para acontecer – desde que seja um movimento novo em seu contexto e que gere valor e resultados, tudo certo, considere a inovação.


Tipos de inovação

Você talvez já tenha ouvido falar nos termos inovação incremental, inovação radical e inovação disruptiva. Mas você sabe o que cada um significa? Sabe a diferença entre eles?


A inovação incremental refere-se literalmente a melhorias. Na imagem acima, veja o exemplo do barbeador da Gillete ao longo do tempo. O objeto em si permanece o mesmo, mas houve evolução no material, na ergonomia, na qualidade da lâmina... O produto passou por uma série de inovações incrementais para melhoria do desempenho e da percepção de valor pelo público. O mesmo acontece com produtos digitais, serviços, processos e formas de trabalho – inovações incrementais para ganho de eficiência e aumento do valor entregue para o usuário ou cliente.

Agora vamos passar para a inovação radical, termo cunhado pelo economista austríaco Joseph Schumpeter para descrever a criação de novos produtos e serviços por parte de uma empresa que representam uma mudança significativa para a mesma, posicionando-a em novos mercados. Lembra do exemplo do Post-it? Quando chegou ao público como um novo produto da 3M, abriu as portas de um novo mercado para a companhia. Isso é considerado uma inovação radical.

Agora vem a relação mais tênue: entre inovação radical e disruptiva. O conceito de inovação disruptiva foi popularizado pelo norte-americano Clayton Christensen, referência mundial quando o assunto é inovação. Esse tipo de inovação geralmente se dá a partir da criação de uma solução capaz de substituir produtos e serviços anteriores em um determinado mercado, quebrando paradigmas e criando novos hábitos de consumo. É um processo que transforma ou substitui um serviço, produto ou tecnologia por uma solução considerada superior.

Exemplo clássico: a Netflix quando lançou o streaming de vídeo transformou completamente a forma como consumimos conteúdo audiovisual em casa e, tempos depois, levou a Blockbuster – que, diga-se de passagem, subestimou a concorrente ­– à falência. Ou o Spotify, que mudou completamente a maneira como consumimos música e virou a indústria de cabeça para baixo.

Agora vem a questão: se por um acaso nós, como público, preferíssemos permanecer alugando DVDs em vez de aderir ao streaming de vídeo, este seria considerado uma inovação disruptiva? Creio que não. Foi a adesão por parte do mercado que transformou o que nasceu como um experimento de inovação radical por parte da Netflix (o streaming de vídeo) em disruptiva. Caso não houvesse adesão, não se consolidaria como inovação.Compreendeu a diferença? Do incremental ao disruptivo: quanto mais à direita na imagem anterior, maior o risco, o tempo de desenvolvimento, o volume de investimento necessário e, é claro, o retorno caso dê certo.


Inovação como cultura

Até aqui tratamos de conceitos fundamentais, mas vale ressaltar: na inovação, o que importa mesmo é a prática. E essa prática só acontece por meio de um “recurso” organizacional fundamental, muitas vezes subestimado: as pessoas.

Mais do que teoria, métodos e ferramentas, a base para inovação está na forma de pensar e no comportamento das pessoas. Não quero dizer que teoria, métodos e ferramentas não sejam importantes, eles são. Mas sem a mentalidade e o comportamento inovadores, de nada adiantam. É por isso que, na Oficina, ajudamos as empresas a desenvolverem uma cultura de inovação.

A cultura de inovação consiste em uma cultura organizacional que torna as empresas capazes de promover inovação recorrentemente, respondendo com agilidade a oportunidade e desafios. Segundo Joseph Weintraub e Jay Rao, professores do Babson College of Boston, ela é composta por seis pilares complementares:


RECURSOS: líderes que puxam a inovação, times capazes de fazer a inovação acontecer, sistemas de suporte e projetos que visam a inovação (com tempo, investimento e espaço dedicados).

PROCESSOS: estrutura sistemática para geração de ideias, prototipagem, refinamento e escala de novas soluções de forma ágil e não-burocrática.

SUCESSO: inovação tratada de forma perene e estratégica, que leva ao reconhecimento do mercado e ao sucesso financeiro, além da satisfação de times e líderes.

VALORES: suporte ao empreendedorismo e a novas formas de pensar, liberdade para experimentar novos caminhos e abraço ao erro como fonte de aprendizado.

COMPORTAMENTOS: líderes adaptáveis e influentes que inspiram, desafiam o time, dão todo o suporte necessário e fomentam a inovação pelo exemplo.

CLIMA: comunidade que entende o que é inovação, abraça a diversidade, mantém relações de confiança e atua de forma colaborativa e simplificada.


Quando entendemos a inovação como um aspecto cultural, percebemos que o desafio de inovar não está associado a somente um departamento – chamado de inovação, P&D ou similares –, mas ao dia a dia de todos os times e líderes. O maior potencial não está dentro dos muros de uma área, mas sim numa cultura que crie terreno fértil para a inovação brotar nas diversas áreas, por iniciativa de diversas pessoas.

Na Oficina, nosso propósito é democratizar o conhecimento e a prática de inovação entre pessoas e empresas. Acreditamos que a inovação não é um fenômeno tecnológico, mas sim um fenômeno humano. Nós humanos precisamos reaprender a solucionar problemas com simplicidade, mão na massa, olhos nos olhos e criatividade.

O capital humano é a matéria-prima da inovação, logo, onde há pessoas há oportunidade para fazer a inovação acontecer.

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